Élvio passou os anos 70 com as mãos no guidão de uma moto. Jaqueta de couro azul com duas faixas vermelhas em cada ombro. Camiseta da banda Eagles, calçado nas botas impecavelmente pretas. Aquela Honda CB 500, com o tanque dourado e detalhes em verde-musgo, era a coisa que mais amava na vida. Mais de uma namorada se queixou de ser trocada pela máquina.
Isso até uma madrugada de agosto de 1979, quando a densa névoa tornou uniforme a paisagem da Estrada do Caqui. Ali, pela primeira vez em seus 24 anos, Évio quase esqueceu da moto, das botas invocadas, do estilo rock’n’roll, até da jaqueta que o primo trouxe do Texas. De um dia para o outro, sua cabeça estava apenas na garota que surgiu feito uma sombra no meio da neblina.
Disposto a enfrentar qualquer desconforto em troca de manter o estilo, Évio pagava por confiar apenas na jaqueta para enfrentar o frio dos primeiros dias de agosto. O ar denso e embranquiçado parecia se insinuar pelas frestas no couro, gola e mangas da camiseta como se tivesse dedos entumecidos pela geada. O show de uma banda cover do Pink Floyd, num bar decadente de Curitiba, valeu o sofrimento? Tanto faz, pensava Évio, para quem a atitude rebelde – até com bandas ruins e metereologia – era uma meta, um autoconvencimento.
(continua...)
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