sábado, 17 de setembro de 2011

Trecho do novo Frio na Espinha Especial - já nas bancas!

Com desenhos de Benett, cartunista do Le Monde Diplomatique, Folha de S. Paulo e Gazeta do Povo, em uma história que envolve o bairro Terra Boa e colégios de Ponta Grossa nos anos 80.

Leia aqui a primeira parte de "Não abra esse livro", de Victor F., com ilustrações de Benett e projeto gráfico de Brayan Giacomitti e Diego Hathy.


I.
Agora, sentado em frente à estante de livros da Escola Nilce Terezinha Zanetti, o jornalista sente o medo paralisar cada junta dos dedos. A mão está congelada no ar, a poucos centímetros da lombada daquela brochura. A professora que veio entrevistar já está na sala. Ele nem percebe.

É o mesmo livro. E todo o sarcasmo que Emanoel construiu ao longo da vida parece ter se voltado contra ele. Deixara de acreditar nessas coisas no meio da adolescência. O que era medo, passou a diversão e agora é tédio: convenceu-se de que não existe isso de espíritos ou de maldições que acompanham as pessoas.
Mas está ali, na escola de uma localidade rural de Campina Grande do Sul. Voltou para ele. Não entende como. Só sabe que não deve ler. Não deve pronunciar as frases que trouxeram tanto medo no raiar da adolescência.

Não é fácil resistir. Sente como se a confirmação de seus pesadelos juvenis fosse uma obrigação. Basta que tenha coragem e abra o volume, leia cada linha até o fim e perceba, no meio do texto, que os terríveis acontecimentos de 26 anos atrás, a mais de 150 quilômetros de distância, continuam rondando sua vida.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Amanhã, no União, uma matéria sobre o sucesso de Frio na Espinha




Viva! Dia de sentir medo!

Crianças do Terra Boa redescobrem o prazer de contar histórias de fantasmas com a coluna Frio na Espinha

As crianças da escola municipal Nilce Terezinha Zanetti, no bairro Terra Boa, não perdem a oportunidade de sentir medo. Quando vêem a professora chegando com o Jornal União embaixo do braço, elas já se agitam: “Hoje tem histórias de fantasma?” Mal a professora responde e os meninos e meninas com até 10 anos já começam a fechar as cortinas, criando o clima ideal para passar alguns minutos em atento silêncio.

Redescobriram a diversão que é assustar e ser assustado por criaturas do além quando a responsável pela quarta série, Ivone Simioni Polli, resolveu usar a coluna Frio na Espinha, do Jornal União, para atividades em comemoração ao mês do Folclore, em agosto.

“Queria ver como seria a reação deles,  pois não é comum as crianças de hoje ouvirem esses causos que fizeram parte da minha infância e da infância de tantas crianças”, conta Ivone.  "Comecei a trabalhar com esses textos  e me surpreendi com o interesse dos alunos que começaram também a envolver os pais e os avós para saberem mais sobre essas histórias”.

Há favoritos, como a história dos bebês não-batizados no cemitério da Jaguatiricia, e a romântica, mas assombrada, “Ela não queria voltar para casa”.  Herondina Quirino, da 4a série B, ganhou um “concurso” de ilustrações sobre o Frio na Espinha inspirada no “cemitério dos anjinhos”. Para a supervisora Edicléia Muchinski, a proximidade com os bairros que são cenários para as histórias é um dos atrativos. “É mais assustador quando você sabe onde é”. Gustavo Armstrong, também da 4a B, se empolgou com a irônica “Ria, Armínio, Ria”, sobre um boa-vida que recebeu um telefonema das trevas.

Ivone conta que o assunto foi contagiando a turma. “A cada dia alguém chegava com uma história diferente sobre assombrações para contar aos colegas.” Os alunos produziram performances teatrais, desenhos e até percorriam as outras salas, recontando as aventuras assombrosas favoritas. Os pais também tomaram gosto e reviveram as lendas que lhes tiravam o sono na própria infância.”Precisamos fazer com que nossas crianças conheçam e valorizem o nosso folclore, os costumes da nossa gente, pois quando lhes damos espaço para falar, percebemos o quanto esse povo tem a nos ensinar”, aposta a professora. 

Jornalistas do União voltarão à escola Nilce Terezinha Zanetti, nos próximos dias, para contar, ao vivo, algumas das histórias que ainda serão publicadas na sessão Frio na Espinha. “É um caso em que o jornalismo efetivamente contribui com o aprendizado. Não se trata apenas de ilustrar a realidade com as notícias, mas pensar no espaço do jornal como um ambiente de incentivo à criatividade, capacidade narrativa, gosto pela escrita e pela leitura. É uma honra contribuir com uma área hoje tão difícil de ser ensinada, que é a literatura”, diz o editor do Jornal União e autor do Frio na Espinha, Victor Folquening. Para o diretor do União, Elízio Siqueira Júnior, o jornal fortalece cada vez mais seu compromisso de ser um elo da comunidade com sua própria cultura.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Frio na Espinha: Olhe para aquela mulher na neblina

O blog do União adianta os primeiros parágrafos da próxima edição do Frio na Espinha. Você lê a história completa no sábado, quando começa a circular o Jornal União impresso. Mas só leia se conseguir andar sozinho, depois disso, por uma estrada enevoada no início da manhã.



Élvio passou os anos 70 com as mãos no guidão de uma moto. Jaqueta de couro azul com duas faixas vermelhas em cada ombro. Camiseta da banda Eagles, calçado nas botas impecavelmente pretas.  Aquela Honda CB 500, com o tanque dourado e detalhes em verde-musgo, era a coisa que mais amava na vida. Mais de uma namorada se queixou de ser trocada pela máquina.

Isso até uma madrugada de agosto de 1979, quando a densa névoa tornou uniforme a paisagem da Estrada do Caqui. Ali, pela primeira vez em seus 24 anos, Évio quase esqueceu da moto, das botas invocadas, do estilo rock’n’roll, até da jaqueta que o primo trouxe do Texas. De um dia para o outro, sua cabeça estava apenas na garota que surgiu feito uma sombra no meio da neblina.

Disposto a enfrentar qualquer desconforto em troca de manter o estilo, Évio pagava por confiar apenas na jaqueta para enfrentar o frio dos primeiros dias de agosto. O ar denso e embranquiçado parecia se insinuar pelas frestas no couro, gola e mangas da camiseta como se tivesse dedos entumecidos pela geada. O show de uma banda cover do Pink Floyd, num bar decadente de Curitiba, valeu o sofrimento? Tanto faz, pensava Évio, para quem a atitude rebelde – até com bandas ruins e metereologia – era uma meta, um autoconvencimento. 

(continua...)

Museu da Pessoa # 1: João, o Coveiro

Museu da Pessoa Campinense

A partir da edição 391, o Jornal União passou a publicar a coluna Museu da Pessoa’. A proposta é homenagear gente que, embora anonimamente, é fundamental para a vida cotidiana em Campina Grande do Sul. 
A iniciativa é inspirada no projeto ‘Museu da Pessoa do Tarumã”, desenvolvido pelo curso de Jornalismo da UniBrasil (Curitiba) e coordenado pelos professores Elaine Javorski, Maura Martins (idealizadora) e Victor Folquening.
 http://museudapessoadotaruma.wordpress.com 



João, O Coveiro

Por Daniel Zanella

João, cabelos brancos, dentes levemente amarelados e rosto corado de sol, assistiu Brasil x Paraguai, pelas quartas-de-final da Copa América. Não gostou do que viu. “Fui goleiro na minha mocidade. Sei como é. O batedor tem que driblar, observar o gol. Não pode bater de qualquer jeito.” Apesar do conhecimento de causa, João alega não ter muito tempo para futebol. Não torce por nenhum clube. “Só vejo a novela das nove... Mas não me lembro do nome agora”.
João Salvador Neto, mais conhecido como O Coveiro, trabalha há 14 anos no Cemitério Municipal de Campina Grande do Sul, das 8 às 5 e meia da tarde. Gosta. “É tranquilo e silencioso”. Concursado público como operário, nunca imaginou que trabalharia algum dia em cemitério. “Não tenho do que reclamar, não. Aprendi até a fazer massa pra lacrar as gavetas”.
O cemitério é grande e dá muito trabalho: é preciso conservá-lo, carpir onde o mato quer vicejar, varrer as folhas que encarpetam as calçadas, limpar os túmulos particulares, auxiliar os visitantes. Quando sobra um pouco de tempo, gosta de conversar e andar pelos corredores do cemitério. Ouve um pouco de música, de preferência sertaneja. Tem especial simpatia pela dupla Bruno & Marrone e pelo cantor Leonardo. Lê pouco, de vez em quando ‘aquele’ jornal da cidade.
João é casado, pai de quatro filhos – três moças e um rapaz – todos estudando. O filho trabalha em um material de construção. No Cemitério, tem um ajudante, o Seu Jorge, mais conhecido como O Outro Coveiro. 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Obituário "Saudade" # 1

A primeira perfilada do novo obituário do Jornal União é uma mulher que dedicou a vida a cuidar das crianças. O trabalho é do repórter e cronista Daniel Zanella.




Dona Jurema
Jurema Valenga dos Santos teve parada cardíaca e morreu no último dia 8 de julho, às dez e cinco da noite, dia de Santa Isabel e do panificador. Ela tinha trombose pulmonar havia sete anos, onze meses e vinte dias, decorrente de suas complicações com diabetes.
Jurema estudou até a terceira série do Ensino Fundamental e era aposentada pela Prefeitura de Campina Grande do Sul desde 2008. Trabalhou nas Secretarias de Educação e Saúde como auxiliar geral.
Nas escolas em que passou grande parte de sua vida, Jurema auxiliou no monitoramento dos alunos, que lembram muito bem dela por sempre lhes servir sucos, pães e quitutes fora do horário do intervalo.  Dizia sentir pena deles. Era uma fumante inveterada e mantinha o vício discretamente, longe de olhares de recriminação. [Seu médico era um dos principais críticos.]
Foi funcionária de um posto de saúde do interior na época em que mal havia médicos, prestando serviços diversos: foi servente, atendente e aplicava injeções. Diziam que tinha “mão boa” e que era ótima jogadora de tranca e canastra.
Jurema deixou viúvo José Pereira dos Santos, mais conhecido como “Zé Guarapuava” – foram casados durante 53 anos –, cinco filhos, catorze netos e cinco bisnetos.
Uma das netas de Dona Jurema perguntou à mãe o porquê de levarem uma pessoa tão boa quanto sua avó.

Coluna do ditado popular! # 1

Essa é a coluna de estreia, assinada por Luciano Kravetz, e que foi publicada na versão tradicional do Jornal União no dia 23 de julho de 2011.

A ocasião faz o ladrão!

Todos nós estamos preocupados com a criminalidade e o fato é que indicadores da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná mostram que a polícia não está conseguindo vencer sozinha a guerra contra a bandidagem. Aumentam o número de invasões de domicílios, furtos e assaltos que culminam em homicídios, sem falar na questão das drogas...
É certo afirmar que a Segurança Pública é a maior responsável por manter nossas ruas e famílias protegidas, mas também cabe a qualquer pessoa colaborar com a diminuição da criminalidade. Na verdade, é questão de cidadania que todos nós colaboremos neste sentido. Por muitas vezes a sociedade, interessada em entrar nessa briga, pergunta para si mesma: “como posso ajudar a combater este mal?” Vou dar duas dicas bem interessantes que podem ser aplicadas com bons resultados práticos.
Por exemplo, quanto aos furtos por razão de invasão de domicílio, faça o reforço de portas e instale grades nas janelas; aumente a altura de muros e portões; com isto, a sua casa não será mais tão interessante aos olhos dos meliantes. Agora pense em termos dos benefícios da sua decisão para a vizinhança: as casas mais protegidas afastam os maus elementos da sua rua e, se várias ruas agirem do mesmo modo, um bairro inteiro poderá ficar limpo deste tipo de crime.
Outra grande dica vem de um programa muito bem sucedido aplicado em vizinhanças, o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg). Funciona assim: os vizinhos, organizados em torno da proteção da sua integridade física e patrimonial, criam um conselho de segurança civil e elegem um presidente; este, por sua vez, é responsável pela coleta e atualização dos telefones dos moradores. A cada movimentação estranha os vizinhos telefonam uns para os outros e acionam a polícia.
Muito bom, não é mesmo? Só para se ter noção dos resultados desta iniciativa, o programa “vizinho solidário em alerta”, do bairro Jardim das Américas, em Curitiba, contribuiu para que nenhum homicídio fosse registrado naquela região desde o início de 2011. Moral da história: os cidadãos ajudam a polícia e a polícia se faz presente no bairro a qualquer sinal de problema.
Esta ideia pode ser adotada como uma iniciativa do seu governo local quanto à motivação das pessoas para ajudarem a combater a criminalidade. Entre no site da SESP e veja outros programas para a segurança pública muito interessantes. E lembre-se, “a ocasião faz o ladrão!” Então, tire a ocasião dele e o mantenha afastado!


Luciano Kravetz é professor da FACSUL.
ijaille@gmail.com

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O melhor Frio na Espinha já publicado



Sempre lembrarei de você

Em frente a um portão enferrujado, com a roupa encharcada pela chuva, no Jardim Paulista. Foi ali que Teodoro se declarou. Lívia não poderia imaginar que aos 32 anos, depois de incontáveis desilusões, acabaria se entregando daquele jeito. Uma paixão de verdade, sem nenhum “porém”, sem as precauções quase inevitáveis de quem vê a adolescência se distanciando.  Teodoro a beijou. Antes que ela fosse embora, ele superou a timidez, olhou lacrimejante para a boca, depois para os olhos, e disse a frase que a escriturária jamais esqueceria:
(leia a história toda na edição 390 do Jornal União, que circula a partir de amanhã, 23 de julho, com texto e fotos de Victor F.)

Outras imagens do futuro CT do Coxa

Por enquanto, são estábulos.

Mas certamente os torcedores não serão deselegantes comparando com as acomodações dos valorosos jogadores do Coritiba F. C.

A Chácara Arroio do Butiá, em Campina Grande do Sul, pertencia ao falecido Aníbal Khouri, um famoso atleticano. Logo será um moderno Centro de Treinamento do maior rival dos rubro-negros.
Veja mais detalhes na edição impressa do Jornal União.

As imagens são da dupla Elízio Siqueira Jr, diretor do União e coxa fanático, e



obituarista Daniel Zanella, um dos milhões de torcedores do Operário Ferroviário de Ponta Grossa.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vinícius. 15 anos. Goleiro do Coxa. Não tem as pernas


* Matéria do Jornal União na edição que circula na semana do dia 18 de julho.

Garoto campinense se destaca nas categorias de base e vai representar o Brasil no mundial paraolímpico de vôlei

Reportagem e texto de Allan Scheid
Fotos de Brayan Giacomitti.

Digno de um roteiro de filme e reforçando a tese de que todo goleiro é maluco, encontramos nos gramados de Campina Grande do Sul um pequeno gigante que atua nas escolinhas de futebol do Coritiba. Vinícius, 15 anos, o goleiro que tem mãos e não tem pernas é a prova real de que tudo é possível. Aliás, quase tudo, ou ainda tem gente que acredita que o Atlético Paranaense será campeão brasileiro em 2011?
Brincadeiras à parte, o menino nasceu com a chamada Sindrome Cenani-lenz Sindactilia. Problema que foi em parte solucionado quando recebeu, no primeiro ano de vida, próteses da Secretária da Saúde de Campina Grande do Sul.

Tímido, ele conta que desde pequeno jogou bola normalmente com os colegas de colégio. Movido pelo sonho de ser jogador de futebol, chegou às escolinhas do Coritiba em 2010 e já conquistou títulos. O responsável pela administração do CT, o popular Capitão, conta como o garoto é tratado no clube: “ele é um atleta igual a todos, não fica devendo em nada, ele superou todos os seus limites e supera a cada dia nossas expectativas”.
As próteses de Vinicíus servem não só para fazer belas defesas e cobrar tiro de meta como também para fazer gol nos tradicionais e descontraídos rachões, em que o goleiro troca as mãos pelas pernas e vira goleador. No seu caso, um legítimo artilheiro perna de pau. E por falar no ataque, já fica o alerta que é melhor não se arriscar a dividir a bola com esse goleirão, afinal você já sabe quem vai sentir mais dor.

Um exemplo de atleta
Além de brilhar nos gramados, as quadras de volêi também fazem parte do ínicio de uma carreira promissora. Convocado para a seleção brasileira Paraolimpíca sub 23, Vinicíus vai disputar uma competição no Rio de Janeiro entre os dias 21 e 24 de julho. Apesar de não saber ao certo em qual posição vai atuar, é facíl ver nos olhos do garoto a alegria em representar o país em um campeonato mundial.
Vinícius é a prova de que o verdadeiro objetivo do esporte não é vencer os outros, mas superar a si mesmo. Nisso, é preciso procurar muito para achar quem esteja à sua altura, em qualquer modalidade.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Frio na Espinha: Fantasmas de bebês não-batizados na Jaguatirica



Quando a tempestade chega à localidade da Jaguatirica, o vento parece o lamento de alguém que já cansou de pedir socorro. E se você prestar atenção, essa voz que corta a madrugada não é a voz de um adulto. Nem sequer é apenas uma voz. Parece um coro infantil, clamando inutilmente pelo descanso.
Quem mora na Jaguatirica convive com um vizinho raro em Campina Grande do Sul. O povoado abriga um dos poucos cemitérios do município, erguido na época em que era habitado por poucas famílias, dispostas a viver sem luz elétrica e obrigadas a abrir picadas na mata para construir seus caminhos. Chegar à sede era muito difícil e, por conta dos caprichos da natureza, muitas vezes impossível. Doentes eram praticamente condenados à morte.
Entre os inúmeros falecidos por falta de socorro, eram as crianças que mais protagonizavam os longos e dolorosos velórios. Partos prematuros, sarampo, tosse comprida. Muitas delas, levadas à mortalha branca sem batismo. Durante muitos séculos, os católicos acreditaram que morrer sem o sacramento representava ir para o limbo, um lugar entre o céu e o inferno, onde alma eternamente vaga sem rumo.


Então, na década de 30, os moradores cercaram um pequeno terreno onde apenas crianças eram sepultadas – o “cemitério dos anjinhos”. Logo percebeu-se que a angústia dessas crianças pagãs atravessava a noite dos tempos e chegava aos ouvidos, à pele da gente que vivia e vive na Jaguatirica.
Cada morador mais antigo tem na memória imagens, sons, cheiros e outras sensações que lhe travam a língua na hora em que decide contar porque viver às portas do Cemitério dos Anjinhos é conviver com o eterno lamúrio de pobres crianças mortas, incapazes de suplicar pela própria alma.
A primeira solução pensada pelas famílias foi determinar um dia por ano para batizar os natimortos. À meia-noite da Sexta-Feira Maior, no fim da quaresma, padres vão às sepulturas e conduzem um ritual de batismo póstumo, tentando salvar os bebês condenados. Até hoje, durante essas cerimônias, realizadas quase na clandestinidade, lamentos, choros e gemidos superam a voz do ministrante, e ventos abruptos apagam as velas protegidas em vão pelos familiares.
Poucos batismos dos “anjinhos” ainda persistem. Dizem que a dor das crianças mortas foi diminuindo à medida que a religião se instalou de vez na Jaguatirica e todos os sacramentos – batizados, crismas, casamentos... – se tornaram parte do cotidiano. Uma pequena capela foi construída como proteção ao cemitério. Mesmo assim, os lamentos sempre reaparecem, especialmente na Sexta-Feira Maior. Nos últimos anos, uma outra figura começou a frequentar as histórias de quem passa à noite pelo Campo Santo. Além das vozes infantis transportadas pelo vento cortante, é possível ver, andando soluçante, embaçada pela neblina, uma mulher de véu, olhando tristemente para as covas onde restam apenas sobras carcomidas de crianças que não sobreviveram ao mundo dos vivos.


O cemitério mudou. Agora não são apenas os bebês inocentes que deitam sob a terra constantemente úmida pela sombra do Morro da Jaguatirica. Só na semana passada, o coveiro Jango diz ter enterrado onze jovens adultos, todos assassinados. Fotos pálidas de jovens decoram as poucas lápides. Talvez a noiva em desespero chore também por filhos, maridos e pais cujas vidas foram violentamente abreviadas.




Fotos de Victor Folquening

sábado, 9 de julho de 2011

Cegonha derruba filhotes na Curva da Cigana

Dia 8 de julho. Reportagem do União a caminho do Morro da Jaguatirica. No km 32 da Régis Bittencourt, uma carreta tipo cegonha sai pela curva e detona a carga de automóveis Agille zero.

Bem-vindos!

Em novembro de 2011, o Jornal União fará 14 anos. A qualidade que sempre foi característica do principal periódico do norte da região metropolitana de Curitiba deu uma acelerada nos últimos meses. A gente experimentou, ousou e o resultado foi que o leitor... adorou! Quando você lê o União, pode passar do riso à emoção no trajeto de uma página.
A aposta do União foi na criatividade. Alguém já disse que criatividade é unir elementos aparentemente inconciliáveis. O criativo é aquele que vê ligação onde ninguém mais vê. Modestamente, a equipe do União se esforça para juntar peças estranhas entre si. É uma experiência, e nós estamos dispostos a aceitar que nem sempre dá certo.
Mas, veja só! Nos últimos três meses, o Jornal União aumentou sua circulação em 50%. Muito melhor que isso: apesar desse monte de papel, experimente não pegar o seu União na manhã de segunda. Ele some. Todo mundo quer ler as matérias policias "poéticas", a cobertura exclusiva dos setores público e privado, a variedade de editorias, o esporte amador e profissional, histórias de assombração que já viraram material pedagógico, uma coluna social divertida e apaixonada pela gente da cidade e... abóboras gigantes!
O maior mérito nesse processo, no entanto, não fica nem na redação do Jornal União, ali na sede de Campina Grande do Sul, nem nas páginas laranjadas que todo mundo já conhece. Nosso trunfo é contar com a inteligência, bom humor e participação do leitor, que todo dia liga, vai até o jornal, escreve e reivindica o melhor veículo de comunicação que uma comunidade pode ter.
Tem quem diga que o jornal de papel vá acabar. Pode ser que aconteça nos veículos que esforcem para se desprender do "pequeno", do vizinho, da vida cotidiana do leitor. Os jornais do interior, comprometidos com a comunidade, só podem se tornar cada vez mais imprescindíveis.
Bem-vindo ao blog do Jornal União, um esforço de convergência ainda tímido, mas que deverá ser capaz de mostrar mais que uma repetição daquilo publicado no papel. Aqui é o lugar para o mais estranho ainda.

Na foto, de Victor Folquening, parte da equipe do União. Da esquerda para a direita: Juciele Oliveira (secretária), Gabriela Siqueira (colaboradora), Diego Hathy e Brayan Giacomitti (artistas gráficos) e Jean Ceccon (correspondente na distante Colombo).