Leia aqui a primeira parte de "Não abra esse livro", de Victor F., com ilustrações de Benett e projeto gráfico de Brayan Giacomitti e Diego Hathy.
I.
Agora, sentado em frente à estante de livros da Escola Nilce Terezinha Zanetti, o jornalista sente o medo paralisar cada junta dos dedos. A mão está congelada no ar, a poucos centímetros da lombada daquela brochura. A professora que veio entrevistar já está na sala. Ele nem percebe.
É o mesmo livro. E todo o sarcasmo que Emanoel construiu ao longo da vida parece ter se voltado contra ele. Deixara de acreditar nessas coisas no meio da adolescência. O que era medo, passou a diversão e agora é tédio: convenceu-se de que não existe isso de espíritos ou de maldições que acompanham as pessoas.
Mas está ali, na escola de uma localidade rural de Campina Grande do Sul. Voltou para ele. Não entende como. Só sabe que não deve ler. Não deve pronunciar as frases que trouxeram tanto medo no raiar da adolescência.
Não é fácil resistir. Sente como se a confirmação de seus pesadelos juvenis fosse uma obrigação. Basta que tenha coragem e abra o volume, leia cada linha até o fim e perceba, no meio do texto, que os terríveis acontecimentos de 26 anos atrás, a mais de 150 quilômetros de distância, continuam rondando sua vida.
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